A maioria dos pais pensam que deveriam deixar de gritar com seus filhos mas, logo, sem se dar conta, se surpreendem a si mesmos recorrendo uma e outra vez ao grito. Parece que nossos filhos não obedecem até que, cansados de repetir a mesma ordem, a gritamos. É verdade que o grito chama sua atenção em um primeiro momento, mas, a longo prazo, deixará de ter efeito. Então, que faremos? Gritar mais forte? Com mais frequência? Viver em meio a gritos?

É possível educar sem gritar?

Evidente que sim. De fato, deveria se essa nossa escolha. Nossos filhos aprenderam a não obedecer até que nos veem, realmente, chateados e este é um mau hábito adquirido. Portanto, é um hábito que devemos eliminar para gerar um mais saudável. Gritar treina nossos filhos a não nos escutar até que levantemos a voz. Quanto mais o fazemos, mais os treinamos e mais nos custará que nos obedeçam sem necessidade de gritar.

Deixar de gritar não é fácil porque pressupõe ter um grande autocontrole sobre nossas emoções, sobretudo da ira e da raiva que nos gera ver a desobediência diária de nossos filhos. É um treinamento que leva tempo. Primeiro, saberemos freiar-nos ao minuto de berrar, mas, pouco a pouco, seremos capazes de freiar antes de começar a gritar. É uma questão de se propor a fazer.

E para que que vocês façam como eu, darei 5 razões para deixar de gritar a seus filhos.

1. Gritar transforma as crianças em surdas

Qualquer explicação ou aprendizagem que queiramos dar a nossos filhos, com o grito será inútil. Isso porque os ouvidos de nossos filhos se fecharam automaticamente depois de ouvi-lo. Depois de uma interação negativa, ninguém está disposto a escutar com verdadeira atenção e com vontade de aprender e melhorar. Isso só se consegue com interações positivas. Se queremos fazer melhores a nossos filhos, não o conseguiremos a gritos.

2. Gritar não ajuda a administrar as emoções

Nós somos um exemplo de comportamento de nossos filhos. Quando perdemos o controle e gritamos, o que lhes ensinamos é a administrar a ira e a raiva com agressividade. Conseguiremos uns adolescentes cheios de raiva, que gritam e perdem o controle diante da explosão de emoções que se tem nessa etapa evolutiva. Se nós ajudamos nossos filhos a administrá-lo de outra maneira, com autocontrole, com calma, falando abertamente das emoções em casa, eles aprenderão a dar respostas mais adequadas à ira e à raiva. Se escuta gritos, aprende a gritar. 

3. Gritar assusta nossos filhos

Eles sentem medo no início e, depois, raiva e impotência. É medo o que queremos que sintam nossos filhos? Certamente não. Nossa intenção quando gritamos é que nos obedeçam, que aprendam, que façam o correto, que nos respeitem, etc… mas não queremos provocar-lhes o  medo. Portanto, com nossa atitude, não conseguimos o efeito que queremos. O respeito se ganha respeitando, a obediência se ganha com paciência. O aprendizado requer um tempo e um esforço. Que façam o correto dependerá, em grande medida, de nosso próprio comportamento.

4. Gritar nos afasta

Cada vez que lhes gritamos, colocamos uma pedra de um muro que nos separa. Perdemos autoridade positiva, perdemos respeito, perdemos comunicação. Ganhamos distância, ganhamos frieza nas relações, ganhamos mais gritos e ganhamos mal-estar emocional.

5. Mais gritos, menos autoestima

Educar com gritos tem um efeito nefasto sobre a autoestima dos nossos filhos. Longe de sentir que estamos orgulhosos de suas conquistas e seus esforços, o que sentem é que nunca estão à altura. Façam o que façam, sempre aparecem os gritos e apagam qualquer sentimento de ter feito algo bem.

Mas, como conseguimos deixar de gritar?

1. Adquirir um compromisso

Será como um pacto de família, no qual nos comprometemos a deixar de gritar e passamos a falar com respeito. Diremos a nossos filhos que estamos aprendendo a fazê-lo e que nos terão que ajudar. É provável que cometamos erros, mas que, se há paciência, cada vez o faremos melhor.

2. Nosso trabalho como pais é controlar nossas emoções

Com o manejo de nossas emoções lhes ensinamos a controlar as suas. Se somos um bom exemplo, eles serão melhores. Portanto, devemos começar a trabalhar com nossas emoções, o que sentimos, o que transmitimos e como o controlamos. É um treinamento que requer tempo e esforço.

3. Lembre-se de que as crianças devem atuar como crianças

Centenas de vezes escutei os pais dizerem durante a consulta:

– É que tenho que repetir mil vezes que se vista. Cada manhã é a mesma história. Está claro que gosta de me ver com raiva.

– Quantos anos tem seu filho?

– Cinco anos. Eu acredito que já sabe o que deve fazer, mas só pensa em brincar.

Diante disso, eu sempre digo o mesmo: o que realmente me preocuparia é que você se sentasse nessa cadeira e me dissesse que seu filho de cinco anos se veste sozinho cada manhã, sem a necessidade de que você o lembre que deve fazê-lo. Porque, então, certamente haveria um problema. As crianças devem brincar. É o que fazem nessa idade. E nós somos os encarregados de lembrar-lhes, cada dia, suas obrigações. É nosso trabalho de pais. Se nosso chefe nos dissesse que, cada dia, temos que lembrar ao porteiro que deve acender a luz, o faríamos diariamente, sem pensar se o porteiro deveria fazê-lo por si só ou não. Pois, com nossos filhos é o mesmo. Cada dia devemos lembrar-lhes as mesmas coisas até que adquiram o hábito. É um trabalho que nunca acaba.

4. Deixar de reunir lenha

Quando você tem um mau dia, qualquer faísca acenderá o fogo. Dê-se um momento. Faça algo para sentir-se melhor e deixe de reunir lenha para o fogo. Em algum momento tem que parar.

5. Oferecer empatia quando seu filho expressa qualquer emoção

Qualquer emoção, boa ou má, deve ser escutada. Para mostrar empatia, devemos fazer com que nosso filho entenda que compreendemos o que sente. Assim aprenderão a aceitar seus próprios sentimentos que é o primeiro passo para aprender a manejá-los. Uma vez que as crianças podem administrar as emoções, poderão manejar também o seu comportamento.

6. Trate seu filho com respeito

Quando as crianças são tratadas com respeito sentem mais vontade de se comportar bem e de tratar os demais com respeito. Simplesmente deve entender que seu filho merece seu respeito mais que qualquer outra pessoa.

7. Quando se chateia, STOP

Pare. Feche a boca. Não faça nada nem tome decisões. Respire fundo. Se já está gritando, pare no meio da frase. Não siga até que não esteja tranquilo. Falar, castigar ou atuar quando alguém está chateado, aumenta notavelmente a probabilidade de tomar más decisões, de gritar no lugar de falar, de usar castigos exagerados e pouco educativos e atuar de maneira desproporcionada.

8. Respire e se dê conta de seus sentimentos

Quando se chatear com seu filho e sentir raiva ou ira, afaste-se da situação, se é possível, e respire. Lave a cara e pense no que há debaixo dessa ira que costuma ser o medo, a tristeza ou a decepção. Dê-se um espaço para senti-lo e chore se assim o sente. Depois verá como a ira desaparece.

9. Encontre sua própria sabedoria

Analise a situação de maneira objetiva. Agora que já não sente ira, será mais fácil. Pense no que quer conseguir e qual é a melhor maneira de fazê-lo. Quer que seu filho o obedeça? Tenha paciência e repita a norma as vezes que fizer falta. Inclusive, ajude-o fisicamente a fazê-lo, guie seus passos. Quer que seu filho o respeite, ensine-o com o exemplo. Quer educar bem seu filho, faça-o desde o reconhecimento e desde o afeto, não desde os gritos e os castigos. Fixe seus objetivos e fixe também seus passos. O aprendizado requer tempo e paciência. Seu filho não pode aprender tudo de primeira. Mais bem ao contrário, não aprenderá nada de primeira.

10. Adote medidas positivas

Todos vivemos esses momentos de tensão em casa, momentos que geram um grande mal-estar emocional e que, cada movimento, não faz mais que aumentar a tensão. Uns gritam, outros choram, ninguém faz o que deve fazer e parece que nada pode parar essa ira. Que podemos fazer?

  • Peça a seu filho um time-out: tempo fora. Um em cada lugar até que a ira desapareça.
  • Peça-lhe desculpas.
  • Ajude seu filho a administrar a raiva que sente, que se sinta compreendido. Explique-lhe que você também se sente assim, às vezes.
  • Busque um lugar tranquilo onde possam estar, debaixo de um grande lençol para deixar passar a ira e a raiva.
  • Leia contos. Ajuda a raiva passar.

Ajudando nossos filhos a administrar bem suas emoções, aprenderemos muito sobre as nossas próprias. Certamente isso nos fará seres muito melhores.

@Texto de Mireia Navarro Vera. Publicado em @Psicologia Santa Coloma.

1 Comentário

  1. Olá sou mãe e me preocupo muito com a saúde do meu filho, ler um bom livro é a essência no dias atuais, por isso precisamos de bons conteúdos que nos ajudem, ficou muito bom seu artigo sempre que posso acesso seu blog. Thau Bjs…

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