Celeste Erlach já não aguentava mais quando escreveu a carta Querido marido. É a carta de uma mãe a um pai que não faz nada em casa. Ele não fazia praticamente nada em casa, enquanto ela cozinhava, limpava e se encarregava da criação das crianças, um deles ainda um bebê.

Ela publicou a carta no grupo do Facebook Breastfeeding Mama Talk (Diálogos de mães que dão o peito), no dia 18 de março. De lá pra cá, tem captado a atenção de muita gente, especialmente de mulheres que se sentem identificadas com a sua vivência.

A carta mostra a necessidade de ir a um caminho da igualdade. Por que temos que nos sentir mal quando pedimos ajuda a nossos parceiros? Muitas mulheres coincidimos que temos em casa um ótimo pai para os filhos, e que muitas vezes recebem ajuda. No entanto, o problema é que tenhamos que pedir a ajuda. O que relata Celeste é essa falta de iniciativa para participar ativamente na divisão de tarefas do lar e na criação das crianças. Lembremos que a criação dos filhos é coisa de dois.

Bom, vamos ler a carta que, por si só, já dá a mensagem!

Quem aí se identifica?

Querido marido

Preciso de. Mais. Ajuda.

Ontem, à noite, foi difícil para você. Pedi que ficasse com o bebê para que eu pudesse ir logo para a cama. O bebê estava chorando. Na realidade, estava reclamando. Podia escutá-lo desde o andar de cima. Fiquei com um nó no estômago só de escutá-lo, pensando se deveria descer e acalmá-lo ou fechar a porta para conseguir as horas de sono que necessitava desesperadamente. Escolhi o segundo.

Você entrou no quarto 20 minutos depois, com o bebê ainda chorando freneticamente. Colocou o bebê no berço e, com cuidado, empurrou o berço para mais perto do meu lado da cama, um claro gesto de que havia terminado de vigiá-lo.

Quis gritar com você. Quis começar uma briga épica nesse mesmo momento. Levava vigiando o bebê e a criança todo o maldito dia. O mínimo que você podia fazer era cuidar dele um par de horas pela tarde para que eu tentasse dormir.

Só umas poucas horas de valioso sono. É pedir tanto?

Sei que os dois vimos nossos pais seguir papéis clássicos de mãe e pai quando crescemos. Nossas mães eram as principais cuidadoras e nossos pais estavam relativamente liberados. Eram pais excelentes, mas não se esperava que passassem tempo trocando fraldas, alimentando e cuidando das crianças. Nossas mães eram supermulheres que mantinham a dinâmica da família. Cozinhando, limpando e criando as crianças. Qualquer ajuda do pai era bem-vinda, mas inesperada.

Vejo que estamos caindo nessa dinâmica familiar cada dia mais. Minha responsabilidade de alimentar a família, manter a casa limpa e cuidar das crianças é dada por sentada, inclusive quando chego de trabalhar. Culpo-me da maioria. Dei por certo de que posso fazê-lo e a verdade é que quero fazê-lo. Não se ofenda, mas não estou segura de que queira saber como seria uma semana de jantar feito por você.

Também vejo minhas amigas e outras mães fazendo-o, e fazendo-o muito bem. Sei que você também o vê. Se elas conseguem e nossas mães também, por que eu não?

Não sei.

Talvez nossos amigos estejam atuando em público e, na realidade, brigam. Talvez nossas mães sofreram durante anos em silêncio e, agora, 30 anos depois, simplesmente não lembram o duro que era. Ou, talvez, e isto é algo pelo que me repreendo a mim mesma todos os dias, não estou qualificada para este trabalho como as demais. E, por muito que me rebaixe somente por pensá-lo, vou dizer algo: preciso de mais ajuda.

Uma parte de mim sente que pedir isso é um fracasso. O que quero dizer é que você ajuda sim. É um pai impressionante e faz um trabalho genial com as crianças. E, além disso, isto me deveria sair só, não é mesmo? Instinto maternal, não?

Mas ou um humano, estou funcionando com cinco horas de sono e estou cansadíssima. Preciso de você.

Pelas manhãs, preciso que prepare o maior para que eu cuide do bebê, prepare a comida para todos e tome uma xícara de café. E não, preparar o maior não significa colocá-lo diante da televisão. Significa assegurar-se de que use o urinol, de que tome café da manhã, comprovar se quer água e preparar a mochila para o colégio.

Pela noite, preciso de uma hora para despressurizar na cama sabendo que o maior está dormindo no seu quarto e você está cuidando do bebê. Sei que é difícil escutar o bebê chorando. Acredite-me, eu sei. Mas, se eu posso cuidar e tranquilizar o bebê na maior parte do dia, você pode fazer uma ou duas horas pela noite. Por favor. Preciso de você.

Nos finais de semana, preciso de mais descanso, momentos nos quais possa sair da casa por minha conta e sentir-me como um indivíduo. Embora seja apenas um passeio pelo bairro ou fazer a compra. E, alguns dias, quando organizei classes de natação e ficava para que as crianças brincassem e parece que tenho tudo sob controle, preciso que me ajude. Ou propor-me que eu me deite, enquanto eles estão dormindo à tarde. Ou começar a limpar os pratos sem que eu tenha que pedir. Preciso de você.

Ultimamente, preciso escutar que agradece tudo o que faço. Quero saber que se dá conta de que a roupa está lavada e passada e uma janta deliciosa foi preparada. Quero saber que valoriza que dê o peito a todas horas e que retire o leite mediante bombinha enquanto trabalho, quando seria mais fácil para mim dar-lhes leite artificial. Espero que se dê conta de que nunca lhe pedi que fique em casa quando tem algum jogo. Como mãe, está assumido que devo estar em casa todas as horas e sempre disponível para cuidar das crianças, enquanto você está fora. E sei que alimento esta ideia estando, bom, pois em casa.

Sei que não é como fizeram nossos pais e odeio pedi-lo. Quem dera pudesse fazer tudo e que parecesse que não custa nenhum esforço. E, quem dera não precisasse de reconhecimento por fazer coisas que a maioria das pessoas pensam que deve fazer uma mãe. Mas, estou mostrando uma bandeira branca e admitindo que sou humana. Estou lhe contando quando preciso de você e, se continuo nesse ritmo, vou explodir. E isso faria mal a você, às crianças e à nossa família.

Porque, enfrentemos isso, você também precisa de mim.

Celeste Erlach

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1 Comentário

  1. Maiara Braga Oliveira Responder

    Gostei da mensagem da carta mas a tradução está horrível

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