Outro dia, durante a aula de musicalização de Laura, chamou-me atenção uma cena entre pais e seus filhos. A professora deixou que uma das meninas, de 4 anos, a ajudasse carregando um grande pedaço de tela. Outro menino, de 3 anos, quis ajudá-la, mas a menina o impediu. Assim se formou a cena. O menino começou a chorar. Sentia-se impotente e frustrado por não poder segurar o pano. A menina tratou de segurar com bastante força o objeto para que ninguém o tirasse dela.

O pai do menino buscou consolá-lo, mas vendo que ele não se acalmava, tentou conter o choro do filho da forma mais típica: “Já está… Não passa nada… Outro dia você pega o pano… Vamos que não tem motivos pra chorar.”. Da outra parte, o pai da menina, conversando com a menina tentou explicar-lhe que deveria ceder e deixar que o outro também brincasse com o pano. Vendo a resistência da menina, começou a exigir-lhe que pedisse perdão ao amigo, pois não tinha feito o correto. Num determinado momento ela desafogou gritando: “É que eu queria o pano para mim.”.

Vale ressaltar que nenhum dos pais gritou, em nenhum momento, com seus filhos. Ambos se colocaram no nível de seus filhos, olhando-os no olho. Mas nenhum dos dois obteve o sucesso esperado. O menino custou muito a parar de chorar e a menina resistiu firmemente. Ficou devendo o perdão ao coleguinha.

Dali minha mente começou a divagar. Minha filha tem ainda 20 meses e sei que me verei nessa situação futuramente. Comecei a me perguntar por que custa tanto às crianças pedir perdão?

Partamos da premissa que as crianças não teriam porque se envergonhar de pedir perdão. Aliás seria mais fácil desde o nosso ponto de vista, já que sairia rapidamente daquela cena que a mete em evidência. Mas não o é. A criança resiste a pedir perdão. Se nega a fazê-lo. Por quê?

Por que é tão difícil para a criança pedir perdão?

Depois de muito refletir, de conversar muito com meu marido, com a família e com outras mães e pais, chego a algumas observações.

Não sabemos pedir perdão ou desculpa a nossos filhos

Fazer tal gesto está muito associado à perda de autoridade. Muitos pais acreditam que o famoso “dar o braço a torcer” é sinônimo de fraqueza e fracasso. Na realidade, DEVEMOS SER O SEU MAIOR EXEMPLO. Lembre-se de que as crianças se espelham em seus pais para marcar suas condutas. Se somos capazes de oferecer um pedido de perdão a nossos filhos, quando estamos equivocados, eles também verão como normal reconhecer os erros e pedir perdão.

Exigir que a criança peça perdão a coloca em uma situação vexatória

Nossas decisões como pais costumam ser baseadas no melhor que queremos para nossos filhos. Corrigi-los no momento é melhor que deixar a conversa para depois. A criança vive o presente. Esperar que três horas depois possa raciocinar sobre o que ocorreu é perda de tempo. No entanto, devemos entender que são crianças e estão aprendendo sobre o mundo e sobre si mesmos. Nosso papel é ajudá-los a compreender que, ao fazer dano a um companheiro, deve oferecer-lhe um pedido de perdão. Esse deve ser sentido e não dito por dizer.

Muitas vezes a criança diz “perdão” apenas para escapar da situação vexatória. Ela, na realidade, deve ser levada a criar empatia com os demais. Como consegui-lo? Através de nosso exemplo em casa, lendo histórias infantis que abordem a temática, realizando atividades sobre empatia.

Não grite com a criança.

Gritar piora a situação. A criança se sente confusa e aturdida. Ela precisa estar tranquila para entender o erro. Para a criança, ouvir o grito do adulto é sentir cheiro de encrenca. Sabe que deverá se defender. E com o grito do adulto, não hesitará em gritar também. Aí já sabe o circo que se monta.

Acredito que, em situações como a descrita aqui, o melhor é tirar as crianças dos holofotes. Sei o quanto seja complicado, já que se tratava de uma aula. Mas a exposição também contribui para que uma chore mais e para que a outra resista mais. Vejo como o ideal retirá-las do ambiente, para que se torne mais fácil a compreensão. Se nós adulto não gostamos quando somos repreendidos em públicos, a criança também não.

No lugar de mandar pedir perdão…

No lugar de mandar pedir perdão diretamente, por que não ajudar que se aproxime do outro e pergunte: “você está bem?”. Essa pode ser uma oportunidade de criar empatia. A criança deve perceber que o outro está chorando, se sente triste e frustrado. É preciso que ela seja empática ao outro. Lembremo-nos do caso que contei no início desta publicação.

A menina explicou bem por que não tinha motivos para pedir perdão: “É que eu queria o pano para mim.”. Para ela, está correto o que fez, pois atuou seguindo seus desejos. Não vê motivos para pedir perdão. Não se trata simplesmente de orgulho. Agora, se a levamos a se dar conta de que, com sua atitude, o outro se sentiu triste, frustrado e ofendido, podemos fazer com que seja empática.

Reconhecer as emoções para criar empatia

Ensinar as crianças a reconhecer, identificar e manejar suas emoções é um passo importante para que crie empatia com os demais. Se é capaz de reconhecer o que as emoções provocam nela mesma, poderá se colocar no lugar do outro. Caso contrário, será muito difícil que possa se colocar no lugar do outro e entender o que está passando. Resistir é mais fácil. Manter-se em uma posição de orgulho também.

Recomendamos ver nossa seção de Educação Emocional com muitas dicas de como trabalhar as emoções com as crianças.

* Foto @YouMeAndTrends

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