De pequenos, de crianças, no início, quando os castigos começaram, vocês eram conscientes de que estavam recebendo um tratamento injusto. Quando batiam em vocês, nas primeiras vezes, choravam de dor e impotência ao sentir a crueldade e a dureza do tratamento que estavam recebendo de seus seres mais queridos e amados, pessoas nas quais confiavam cegamente. Naquela época, vocês se reviravam, se sentiam abusados, traídos, sabiam que não estavam sendo tratados de forma adequada. Sabiam que os castigos, de qualquer tipo, não eram corretos.

Com o passar do tempo, depois de serem castigados reiteradamente, vocês acabaram por claudicar e vossa jovem mente infantil, necessitada de apego, apoio e proteção por parte dos adultos, buscou um subterfúgio para poder assimilar a crua realidade que supunha que as pessoas nas quais confiavam cegamente lhes traíam, tratando vocês daquela forma cruel. Vossa mente trabalhou de forma eficaz para protege-los da verdade do abuso recebido. Assim, no mais profundo de seu ser, escondeu a realidade dos fatos e se criou uma série de desculpas para justificar os maus-tratos recebidos: “Meus pais me castigavam porque merecia. Eles me batiam pelo meu bem. Eles me tiravam privilégios porque não sou digno de confiança. Não sou digno de ser amado, etc.”

Hoje em dia, apesar do tempo passado desde nossas infâncias, se não colocamos remédio e nos liberamos dele, este mecanismo de auto-engano e justificativa segue funcionando. Um exemplo que nos mostra claramente é como, com frequência, se dão, nos meios públicos, debates nos quais um alarmante número de adultos (alguns profissionais do entorno da infância, como médicos, psicólogos, professores, juízes, etc.) justificam, cegamente, o castigo, incluído o físico, como ferramenta pedagógica na criação e educação das crianças.

Entretanto, esses adultos, pequenos meninos castigados e abusados em sua infância, na realidade, o que estão fazendo com sua defesa de todo tipo de castigos, não é louvar as bondades educativas e pedagógicas desses, o que estão mostrando é a necessidade que ainda sentem de seguir justificando seus pais, seus avós, seus professores e aqueles adultos que os trataram mal quando o que tinham que ter feito é tê-los amado, protegido, acompanhado de forma madura, serena e compreensiva.

Quando uma pessoa justifica, cegamente, os castigos, sem ver a cruel realidade que supõem, não nos está falando desde a maturidade da fase adulta, mas sim desde a dor de sua própria infância…

* Autores: Ramón Soler e Elena Mayorga. Tradução: Karina de Freitas. Imagem: Flirck.

Disciplina Positiva

Através da Disciplina Positiva aprendemos a centrar-nos em potenciar habilidades em nossos filhos para que possam ser capazes de solucionar problemas por eles mesmos. Também reconhecemos que castigos físicos e psicológicos não são recursos que favoreçam a criar crianças com autonomia, responsáveis e independentes. Saiba mais:

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