A Disciplina Positiva deixa uma lição importante para nós pais: buscar o autocontrole. É através do autocontrole emocional que podemos buscar soluções aos problemas vivenciados com nossos filhos sem recorrer a recursos de violência física ou psicológica. Isso está muito bem, sobretudo para gerações que cresceram apanhando de seus pais e tem esse modelo repressor como exemplo de educação para os filhos. Mas, por outro lado, considero a teoria deixa a desejar no que diz respeito a dar-nos pistas suficientes sobre como conseguir o autocontrole. Por exemplo, como podemos manter o autocontrole em meio a uma birra de criança de 2 anos?

Vejo que muitos pais acreditam que se não gritam, não batem ou não colocam de castigo já estão se autocontrolando. Em partes sim. Mas é preciso ver que isso pode estar vindo às custas de o adulto cuidador reprimir seus próprios sentimentos e emoções.

Costumo dizer às minhas amigas mães que lidar com a birra de criança é uma situação heavy-metal da maternidade. O som agudo do choro da criança penetra em nós e faz o sangue ferver, literalmente. Podemos manter o autocontrole no sentido de não bater e não gritar, mas é impossível ficar alheio, emocionalmente, ao que está acontecendo no entorno. Então, é preciso que também nós aprendamos a validar nossas próprias emoções. É preciso que aprendamos a acolher tudo o que estamos sentindo com amabilidade. Só assim poderemos manter o controle no momento de uma birra de criança.

Numa situação assim, o objetivo é um só: conter a birra de criança. E daí que o autocontrole é a chave para por fim nesse momento tão desagradável. Afinal, nenhuma mãe ou pai quer ver seu filho sofrendo tanto por uma bala ou por não querer por a roupa. Minha filha tem dois anos. Meses antes já havia começado com as birras, mas, cada vez mais, tem se tornado constante. É impossível passar o dia sem que faça uma ou duas birras. Desenvolvi uma técnica da respiração, inspirada no mindfulness, que vem funcionando super bem para conter as birras da Laura. Queria dividir com vocês, pois acredito que outras mães também podem usa-la e obter o mesmo sucesso.

Antes deixo alguns links sobre o mindfulness, para que entendam o que é essa prática de meditação, seus benefícios e dicas de exercícios para crianças:

Observe seu filho

Acredito que sermos grandes observadores de nossos filhos é o primeiro quesito para que possamos atender melhor as suas necessidades. De nada adianta, como adulto, ter o autocontrole se não sou capaz de conhecer meu próprio filho.

Vou usar a metáfora da montanha russa para explicar a birra da Laura. Então, durante a birra (e imagino que seja assim com a maioria das crianças), Laura começa com uma negação: “Laura não quer”. Ela repete a negação, aumentando o tom de voz e dando início ao choro. Sabe aquele início da montanha russa, quando ainda estamos em horizontal, preparando-nos para a primeira subida? Essa é a primeira fase da birra.

A tensão começa a dominar todo o seu corpo. E é esse o momento que começamos a subir. O choro começa a se intensificar e chega um momento que ela se descontrola. Se tento pega-la, o corpo enrigece. Se está deitada, ela encolhe o corpo ou o estende dando patadas constantes contra o chão. Na maior parte das vezes, ela faz uma primeira pausa para respirar e pegar impulso para uma nova fase de choro, mais aguda e forte. Então esse é seu pico. Tal como uma montanha russa, essa é a hora da queda livre.

Quando chega abaixo, temos a segunda pausa. E é, nesse momento, em que começo a aplicar a técnica da respiração para acalmá-la. Por que na segunda e não na primeira? Porque, na primeira, aproveito para dizer-lhe ao ouvido que estou aqui, que a amo e que tudo vai passar. Digo que fique tranquila, que estou a seu lado. Nada parece ter efeito. Ela não consegue se controlar na primeira pausa. Apenas estou acolhendo suas emoções com amabilidade. Então o melhor é começar a aplicar a técnica na segunda pausa.

Em 90% dos casos, consigo evitar que ela dê continuidade na montanha russa e faça um looping. Os outros 10%, quando a técnica da respiração não tem efeito na segunda pausa, tem seu efeito na terceira ou na quarta. A questão é ter paciência e persistir. Então, vamos à técnica da respiração!

Técnica da respiração para conter a birra de criança

Depois que você tenha feito o exercício de observar bem como são as birras de seu filho, é muito mais fácil ter autocontrole na hora de conte-la desde o respeito e sem traumas. Explico a vocês como faço a técnica da respiração para conter a birra da Laura.

1. Deixe a criança chorar

Então, o primeiro que faço é deixa-la chorar. Quando uma birra começa, a criança vive uma explosão de sentimentos e emoções desencontradas. É chato que estejamos chateados com algo e tenhamos uma pessoa a nosso lado dizendo: “Que bobeira chorar por isso. Há coisas mais importantes!” Pode ser que a criança esteja chorando porque quer um lápis para colorir e você vê que não é o momento. Mantenha-se firme em sua decisão, mas respeite a frustração de seu filho.

Você se lembra de que usei a metáfora para contar como se dão as birras da minha filha? Até a primeira pausa, ela precisa se expressar e o choro é a forma mais legítima de externar sua raiva e frustração. Verifique sua necessidade naquele momento. Pode ser que tenha fome, frio ou sono. Talvez, precise de um abraço ou que você o deixe chorar deitado no chão ou na cama. Conceda-lhe o tempo de chorar pelo que tanto desejava e não pode ter.

Acredito que a birra é como nossos pensamentos. O choro vai em continuo e enreda um tom no outro e pode arrastar a criança para algo que não quer: o sofrimento por algo desejado. É preciso que ela desenvolva recursos necessários para conseguir deixar que a birra passe para voltar a se centrar no presente. Essa é a base da filosofia do mindfulness. Ensinar a criança a respirar é o maior bem que podemos fazer-lhe para que aprenda, nessa etapa, a ter autocontrole.

Dê um forte abraço

Dê um forte abraço. Essa é uma forma de dizer à criança que estamos para ela. Assim como acolhemos os momentos felizes vividos com nossos filhos, devemos acolher essas emoções negativas com amabilidade. Sempre lhe dou um abraço forte. Quase sempre, Laura vivencia a birra abraçada a mim ou a seu pai. Essa proximidade a ajuda a reequilibrar-se. Ao estar abraçada a um de nós, sente as boas sensações que esse aconchego lhe traz.

Além disso, de por si, o abraço é uma forma de acolhimento. Os braços que envolvem a criança, dão conta de acolher com compaixão e sem julgamento.

Primeiro respira

No segundo momento de pausa é quando começo a prática da respiração. Digo à Laura próximo ao seu ouvido: “Respira… respira… respira… Para você se acalmar, primeiro respira…”

Pode ser que, na primeira vez que convido minha filha a respirar, ela se acalme. Mas nem sempre isso ocorre.  Ainda assim, o processo de calma já se inicia e o choro começa a se tornar mais ameno. Continuo convidando-a a respirar.

Mas, claro, não basta dizer-lhe que respire. Eu faço as respirações profundas, contendo-a entre meus braços. Lembre-se de que está em meu colo. Ela sente os movimentos de inspiração e espiração. Daí que seu foco, que estava no choro, passa para o sentir minha respiração. É, nesse instante, que ela retoma o controle de si mesmo e dá fim ao mal-estar provocado pela birra.

Caso insista em retomar a birra, porque não se conforma em não ter o que deseja, repito o mesmo processo, uma e outra vez. Como já mencionado, na maioria das vezes, a birra acaba na primeira vez que aplico a técnica da respiração.

Enfim, você já terá lido o conselho de tentar distrair a criança com outra coisa. Isso porque a criança só consegue ter foco em uma única coisa de cada vez. Tentar desviar a atenção para algo que goste pode ser uma opção. No entanto, nem sempre funciona. Além disso, vejo esse recurso como um simples escape do problema vivenciado.

Quando a criança volta a sua atenção para uma boneca que está na vitrine da loja, deixando de chorar, no meu ponto de vista, estamos transmitindo à criança que o que sente não é importante. Ao fazer a técnica da respiração, estamos ensinando nossos filhos a se autorregularem. Eles se centram na nossa respiração e se tornam conscientes da importância do respirar para se acalmar. Acredite, ao colocar o foco na nossa respiração, eles acabam por aprender também a respirar.

Valide os sentimentos e emoções

Você já terá lido em diferentes publicações na web sobre a importância de validar os sentimentos e emoções de nossos filhos depois da birra. Isso é realmente muito importante. Durante o turbilhão de emoções que a criança está vivenciando é impossível querer solucionar qualquer coisa. Daí que é inútil que gritemos ou batamos em nossos filhos porque façam uma birra. Isso apenas piora a situação.

Em qualquer caso, o melhor é conter a birra de criança desde o respeito. Depois passamos à validação das emoções. Uma dica é que seja claro. Diga-lhe poucas palavras que levem a criança a compreender o porquê de sua decisão. Dê nome às emoções que está sentindo: “Entendo que tenha ficado com raiva. Eu também sentiria raiva se quisesse isso e não pudesse ter.”. Em seguida, explique o porquê: “Neste momento não posso lhe dar uma bala porque dentro de pouco vamos almoçar.”. Por fim, dê-lhe outras duas opções: “Se quiser, antes de ir jantar, podemos ir ao parque durante 15 minutos ou brincar juntas em casa de massinha. O que prefere?”.

Algumas considerações

Decidi compartilhar aqui a minha experiência com as birras da Laura depois de compartilhar uma publicação no nosso Instagram (@criandocomapego) sobre a prática do mindfulness com crianças. Várias pessoas me escreveram pedindo para explicar a técnica.

Desenvolvi a técnica da respiração para atender uma necessidade da minha filha. Compartilhar com você é uma forma de trocar experiências com outros pais. Acredito que, tal como tenho colocado em prática, seja útil para crianças entre 2 ou 3 anos. Se você tem filhos um pouco maiores, animo a que adapte a técnica da respiração à idade e às necessidades de seu filho. E, claro, conte-nos no comentário ou envie-nos um e-mail sobre sua experiência.

Por último, conto a vocês que, finalmente, começamos a praticar mindfulness com Laura e temos observado mudanças positivas. Estar aplicando a técnica da respiração, com certeza, tem auxiliado no processo de redução das birras e em ajudar a nossa filha  a se acalmar mais rápido.

Disciplina Positiva

Através da Disciplina Positiva aprendemos a centrar-nos em potenciar habilidades em nossos filhos para que possam ser capazes de solucionar problemas por eles mesmos. Também reconhecemos que castigos físicos e psicológicos não são recursos que favoreçam a criar crianças com autonomia, responsáveis e independentes. Saiba mais:

1 Comentário

  1. Bem legal
    Mãe de gêmeos em busca de autoconhecimento e recursos pra educar cidadãos pra o bem!

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