Era uma vez uma menina que se chamava Gerarda. Era uma menina  terrível, implicava com todo mundo, maltratava os animais, troçava dos mais velhos e era o diabo em figura de gente. Um dia, ela estava sentada na porta da casa onde morava, quando foi passando uma velhinha conhecida por ter poderes. Todo mundo sabia que ela era bruxa e todos daquele lugar tinham um grande medo e respeito por ela. Mas a danada da Gerarda não perdeu tempo, correu atrás da velhinha e começou a gritar:

– Velha bruxa! Coruja do inferno, o que foi que você veio fazer aqui?

A velha, indignada com a menina, respondeu dizendo:

– Sai daqui, menina do diabo! Você vai crescer, vai ter filhos, vai ficar velha também e vai sofrer pra você saber como é bom fazer os outros sofrerem. E um dos seus filhos vai virar coruja para você aprender a respeitar os outros!

Mas Gerarda nem ligou e continuou a xingar:

– Velha bruxa! Coruja do inferno, o que foi que você veio fazer aqui?

Deixa estar que o tempo passou.

Gerarda cresceu, ficou moça bonita e se casou com um rapaz que tinha uma roça. Os dois trabalhavam muito nessa roça. O casal teve duas filhas. A mais velha chamava Lalu e mais novinha chamava Besebé. Quando a mais velha tinha doze anos e a caçula apenas sete meses aconteceu uma tragédia: o marido de Gerarda morreu picado por uma cobra venenosa quando trabalhava na roça. Gerarda sofreu muito, mas continuou a trabalhar para criar as filhas e a vida seguiu.

Gerarda gostava muito de comer Amalá que é um caruru de quiabos. Um dia ela foi para a roça de manhã bem cedinho deixando em casa um bocado de quiabos prontos para fazer seu caruru quando voltasse na hora do almoço. Aconteceu que ela demorou muito e Lalu, que estava com muita fome, resolveu fazer o caruru. Os quiabos estavam na cozinha, mas a menina não encontrou carne. Ela não teve dúvida: pegou Besebé e matou. Depois temperou, cortou em pedacinhos e colocou na panela para cozinhar junto com os quiabos. Em seguida, temperou com sal e azeite de dendê.

Quando o caruru estava pronto, ela comeu e deixou o resto para sua mãe comer. Horas depois Gerarda chegou morta de cansada, com fome e pensando que ainda ia ter que fazer comida. Foi quando Lalu disse:

– Mamãe, já cozinhei o caruru e já comi! O da senhora está na panela.

Gerarda mais que depressa correu para a panela, se serviu de um bocado de caruru, comeu de lamber os beiços e fico por ali descansando. Depois que ela descansou bem, notou que Besebé estava muito quieta e foi espiar. Quando ela chegou na porta do quarto e não viu a menina, chamou Lalu e perguntou:

– Cadê Besebé, minha filha? Onde é que ela está?

Lalu, correndo pela porta da rua, disse:

– Eu botei no caruru, pra senhora comer.

Gerarda, com as mãos na cabeça, alucinada, correu atrás de Lalu. Mas a menina correu rápido e desapareceu no mundo. A mulher ficou doente e sentindo remorso de todas as coisas terríveis que já tinha praticado na sua vida. Mas o tempo cura tudo e Gerarda seguiu resignada pela vida.

Lalú ficou à toa pelas ruas até que encontrou Ogun, que a levou para casa, para que a menina cuidasse das suas roupas e ferramentas. Lalu, depois que chegou na casa de Ogun, começou a abusar, dando e vendendo tudo que tinha na casa. Um dia, Ogun tinha que fazer uma viagem,chamou Lalu e perguntou sobre suas coisas. Lalu saiu pela rua gritando como doida:

– Vendi todas as suas roupas e ferramentas!

Assim ela passou pela casa de quase todos os orixás e fazia sempre a mesma coisa.

Por fim ela chegou na casa de um velhinho, que estava todo enrolado com panos bem alvos, se aquecendo ao fogo. Quando Lalu viu o velhinho pensou consigo mesma:

– Aqui deve ter pouco trabalho! Está bom pra mim!

Depois ela perguntou ao velhinho como ele se chamava. Ele disse que o seu nome era Oxalá e convidou Lalu para tomar conta de sua casa. E a menina terminou fazendo a mesma coisa que já tinha feito na casa dos outros orixás.

Só que dessa vez foi diferente. Quando ela saiu pela porta gritando como doida, Oxalá lhe jogou uma maldição:

– Lalu, de agora em diante você será uma coruja e só terá direito de vagar pela noite!

Imediatamente Lalu se transformou em uma coruja. Na primeira noite ela pousou justamente no telhado da casa de Gerarda e começou a cantar um pio triste. Dentro da casa, a mulher reconheceu a voz da filha e se lembrou da praga que a bruxa havia lhe rogado. Gerarda teve um ataque de tristeza e morreu.

E a coruja ficou eternamente vagando pela noite.

Veja também

Histórias de mulheres negras para empoderar meninas

Atividades para o Dia da Consciência Negra

Contos africanos

Seleção de lindas histórias africanas para crianças e adultos. Leia os mais variados contos. Temos certeza de que vocês gostarão tanto quanto nós. Lembre-se de que apresentar a cultura africana a nossos filhos lhes damos a oportunidade de conhecer um pouco mais de nossas origens.

Deixe Uma Resposta