O erro é uma oportunidade para aprender. Essa é uma crença que, continuamente, buscamos integrar a nossos discursos de pais, mas que nem sempre a aplicamos em nosso dia a dia. É importante fazer um retrato da educação que recebemos de nossos pais para projetar o que queremos para nossos filhos. Daí que convidamos vocês a refletir sobre como atuamos quando nossas crianças erram. E o faremos desde a perspectiva da Disciplina Positiva e do Método Montessori, em um contraponto com a educação de toda a vida.

Um caso real, duas perspectivas de educação

O que você faria ao ver sua amiga bate no filho na sua frente? Vivenciei essa experiência embaraçosa outro dia no parque. Minha amiga e eu estávamos com nossas filhas no parquinho. A minha tem 21 meses e a sua 17 meses. Estávamos próximas à gangorra. Minha filha gangorrava quando, sem que me desse conta, se precipitou para frente para descer e caiu ao chão. No momento, coloquei-me à sua altura e busquei explicar-lhe porque não deveria descer da gangorra tão bruscamente.

Em sequência, a filha da minha amiga, a qual chamarei de R., vinha correndo em direção a uma das gangorras que estava em movimento. Podem imaginar o que aconteceu. A menina bateu contra a gangorra e se machucou na cabeça. No momento, pelo susto e pela dor, R. começou a chorar. A mãe do menino que gangorrava ficou sentida. Tentou se desculpar pois, ainda que estivesse ao lado, que não deu conta da aproximação de R. Minha amiga tranquilizou a outra mãe.

Mas o inesperado aconteceu. E eu não estava preparada para viver esse momento. Minha amiga pegou R. pelos braços bruscamente, deu-lhe um tapa na cara, e lhe gritou: “Isso é pra você aprender”. A menina, então, berrou mais alto. E todos do parque acenderam seus faróis em direção à minha amiga e sua filha. Nesse momento, elas se sentaram em um canto. Acho que minha amiga se deu conta da situação e começou a encher a filha de beijos, tentando consolá-la.

O que nos ensinaram sobre os erros?

Certamente, assim como eu e minha amiga, você também é de uma geração em que os erros eram tidos como algo negativo. Sempre nos diziam o que pode e o que não pode fazer. E, em caso de que nos equivocássemos, em muitas famílias, a correção dos erros a partir de gritos, castigos e palmadas. Bem como, o acerto era recompensado com prêmios.

Dessa forma, de pequenos, aprendemos que:

  1. Errar é algo ruim.
  2. Não devemos cometer erros.
  3. Se cometemos erros, somos estúpidos e fracassados.
  4. Se cometemos erros, devemos ocultá-los para que os demais não se deem conta.

Enfim, esse tipo de educação que inibe o erro, o único que consegue é fazer com que a criança se sinta fracassada, culpada e frustrada. Afinal, não bastava o erro em si para que servisse de aprendizado. Era preciso lidar com o medo de ser machucado fisicamente por seus pais. Esses deveriam acolhê-lo com amor e respeito. Por medo de apanhar ou ser castigado, a criança aprende a mentir. Torna-se incapaz de reconhecer os erros e assumir responsabilidades.

Vale mencionar que, no relato que fiz no início desta publicação, a minha amiga opta por uma educação repressora. Acredita que ao bater na filha, está educando-a para não cometer o mesmo erro. Não julgo minha amiga por suas escolhas, embora não esteja em consonância com elas. Certamente está reproduzindo o padrão de educação que recebeu de seus pais.

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Cometer erros é uma oportunidade para aprender

Se, por um lado está a educação repressora, por outro está uma educação que busca tratar a criança com amor, respeito e firmeza. E é, justamente essa a que busco aplicar com minha filha nas diversas situações. Para Maria Montessori, apenas através da experiência e do exercício os erros são corrigidos. Muitas vezes, é preciso uma sucessão de erros para que aprenda.

Rotular, bater, gritar, castigar… são recursos pouco eficazes se queremos que a criança aprenda de seus erros. Montessori também nos mostra a importância de adotar uma atitude simpática diante do erro, considerando-o um companheiro que vive com a gene e que tem uma finalidade. Basta pensar que se palmadas e castigos tivessem sido eficazes na  nossa infância, seríamos doutores em nunca errar. Seríamos capazes de prever qualquer possibilidade de erro e nos esquivarmos dele.

A Disciplina Positiva também caminha na mesma direção de Montessori. Entende que a criança é parte da solução. Em outras palavras, o que se busca é a autodisciplina. Ao ser convidada a participar ativamente do processo, a criança tende a melhorar seu comportamento, pois se sente importante, tornando-se consciente do que fez.

Como é possível consegui-lo? Através do convite à reflexão, sempre em momento de calma. Evita-se a culpa e aproveita-se a situação para a aprendizagem. O resultado esperado virá, sobretudo, na fase adulta, quando sejam

Aplicando os Rs para aprender com os erros

Voltando à situação vivenciada com minha amiga, no parque, passei pensando se a ferida que a gangorra lhe causou não foi suficiente para que aprendesse. Era necessário que sua mãe lhe desse um tapa na cara para que, de fato, aprendesse? Estive, então, pensando o quanto o estresse do momento também pode levar essa mãe a uma ação brusca e violenta. Por isso, é preciso tomar o tempo necessário para nos acalmarmos, quando nos damos conta que a situação não está sob nosso controle. É preciso conectarmos com nosso interior para, posteriormente, poder ajudar a criança.

Segundo a Disciplina Positiva, nesses casos, vem bem aplicar esses Rs.

  • Reconhecer o erro cometido.
  • Reconciliar-se, pedindo perdão.
  • Resolver, buscando uma solução conjuntamente.

Acreditamos que é possível alcançar um comportamento adequado da criança desde o trato com dignidade, respeito e, sobretudo, amor. Só assim se sentirão capazes de buscar soluções adequadas aos problemas, sem que isso lhe gere frustração, angústia, ansiedade ou depressão (no mais grave dos casos).

Aliás, aprender com os erros é também uma forma de saber reconhecer, expressar e validar as emoções. Lembremos que é natural sentir sentimentos de raiva, tristeza ou frustração quando erramos. Mas, buscar ser empático com os erros e aprender com eles não significa camuflar ou fingir o que se sente. É preciso saber reconhecer a emoção que esse erro provoca. Esse é um modo adequado de poder buscar uma solução positiva para o problema.

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O que fiz ao ver minha amiga bater na sua frente?

Apenas para matar a curiosidade, quando minha amiga se aproximou de mim, após o triste episódio, perguntei-lhe se estava nervosa. Ela disse que sim e completou que estava muito cansada. Compreensível o cansaço, pois está grávida de outro filho. Ela tentou explicar-me que, se não ensina o bebê desde pequeno, seguirá cometendo o mesmo erro na vida.

Eu não a julguei nem a critiquei. Mas expliquei que sua filha era apenas uma bebê. Estava recém chegada a este mundo e que os erros já seriam sua grande lição. Era preciso mais paciência, pois ela apenas tinha se chocado contra uma gangorra. Certamente, dentro de 4 anos já nem brincaria mais disso.

Disciplina Positiva

Através da Disciplina Positiva aprendemos a centrar-nos em potenciar habilidades em nossos filhos para que possam ser capazes de solucionar problemas por eles mesmos. Também reconhecemos que castigos físicos e psicológicos não são recursos que favoreçam a criar crianças com autonomia, responsáveis e independentes. Saiba mais:

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