Aprendemos Juntos: um projeto de educação para uma vida melhor é uma proposta do Banco BBVA em colaboração com o jornal El País e Grupo Santillana. Todas as terças e quintas-feiras, a web publica vídeos que trazem discussões muito interessantes sobre a educação. Uma delas é sobre os rótulos que colocamos em nossos filhos. Esta menina é muito boa e esse menino é muito mau. Ou é esperto ou é bobo. Até que ponto condicionamos sua conduta e limitamos o seu desenvolvimento? Alberto Soler, psicólogo e pai de dois filhos, responde essa questão.

Até que ponto os rótulos que colocamos em nossos filhos limitam o seu desenvolvimento?

O psicólogo explica:

“Pense, por exemplo, nos potes de conserva que você compra nos supermercados. Esses rótulos do pote são colocadas facilmente. Uma máquina vai colocando os rótulos e isso demora muito pouco. Mas, você já tentou tirar algum? É quase impossível. Você coloca debaixo de água quente, com álcool, esfrega com esponja. É muito difícil tirar esses rótulos.

Então, com os rótulos que colocamos nas crianças e em outras pessoas, ocorre exatamente o mesmo. No momento em que nós já temos um rótulo posto, quase sem nos darmos conta, acabamos nos comportando de acordo com o rótulo que nos foi dado, ou que nós mesmos nos colocamos. Assumimos esse rótulo, interpretamos esse papel.”

O poder das expectativas

Soler ainda acrescenta dados sobre como nossas expectativas influem nos resultados das experiências de uma criança.

“Nos anos 1960, em 1963, se me lembro bem, o psicólogo americano Robert Rosenthal publicou um artigo no American Scientist, no qual trata precisamente do poder das expectativas. Ele se dedicava a estudar como as expectativas que tem os pesquisadores cientistas podiam influenciar no resultado de suas experiências.

A diretora de um colégio na Califórnia, que se chamava Lenore Jacobson, entrou em contato com Rosenthal e juntos desenharam um experimento para realizar em sala de aula. Pegaram 320 alunos de seis séries escolares, ao acaso, e aplicaram umas provas de inteligência. O objetivo era apenas homogeneizar e ver que todos tinham a mesma capacidade.

Desses 320 alunos, selecionaram, aleatoriamente, 65 alunos. E, desses alunos, elaboraram uns informes falsos que entregaram depois a seus professores. Nesses informes constava a informação de que esses alunos haviam obtido, nas provas, uns resultados brilhantes, que eram alunos que destacavam muito, que haviam chamado a atenção dos pesquisadores, e que, no decorrer do ano acadêmico, os professores podiam esperar muito deles. Colocaram neles o rótulo de espertos, capazes, inteligentes.

Conclusão, fecharam suas pastas e foram pra casa. E quando acabou o ano escolar, no final, voltaram a passar outra vez as provas de inteligência a esses 320 alunos. E sabe o que passou? O 65 que, equivocadamente, ou que falsamente, foram rotulados como mais inteligentes, nas provas de inteligência de final de curso, efetivamente mostraram maior inteligência que o resto de seus companheiros.

E não apenas isso. O resultado acadêmico desses alunos foram, significativamente, melhores que os do resto.”

Isso não é magia

Sobre como os rótulos condicionam a conduta do sujeito, Soler continua explicando:

“Isso não é magia, não é bruxaria, não é o de “crer em si mesmo”. Com esses rótulos que, falsamente, foram colocados neles os professores deram um trato diferenciado. Mantinham mais tempo o contato ocular com eles, lhes davam mais oportunidades de dar uma resposta correta quando eles erravam, eram mais amáveis, sorria para eles mais frequência… Quando interrompiam a classe, não pensavam: “Esse menino não fica calado!”, mas sim que “É tão inteligente, tem tantas dúvidas que não quer ficar com nenhuma”.

Foi esse trato diferenciado o que fez com que, no final, pudessem despontar.

Esther Soriano (mãe de uma menina): E se além dos professores esses informes tivessem sido dados às crianças, e lhes fosse dito aos 65 meninos: “Vocês são espertos”?

Alberto Soler: Há outros estudos que não utilizam a mesma metodologia mas se faz algo parecido. Transmite-se às crianças que são gênios: “Você vale muito! Como você é capaz! Vai chegar a ser presidente do país”. E sabe o que ocorre? Que no final, esses meninos vivem com medo a não poder satisfazer as expectativas dos demais. Vivem com medo de errar, se arriscam menos. Entre duas tarefas, uma mais desafiadora e outra que é um acerto seguro, acabam escolhendo a segunda opção. Colocam-se menos à prova porque tem medo a decepcionar os demais que colocaram tantas expectativas sobre eles.

Afinal, não é uma questão de transmitir às crianças que são gênios… Não, é ser conscientes de que as expectativas que temos, a mirada que colocamos sobre outra pessoa acaba condicionando a conduta dessa pessoa. E como os demais nos olham, também acaba condicionando nosso próprio desempenho.”

Foto: @ABC

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