Na primeira hora da manhã lia a notícia de que policiais haviam sido acionados para uma ocorrência. Criminosos armados com fuzis estariam na mata próxima à Gardênia Sul, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. O que ocorreu nenhum dos policiais presentes na operação esperavam: cinco crianças brincando de ‘polícia e ladrão’.

Sim. E daí? Essa é uma brincadeira comum entre as crianças. Claro que é, não fosse o fato de que os menores, entre 10 e 13 anos de idade, brincavam com réplicas e papelotes com alusão à cocaína e maconha, em sacos cheios de achocolatado e leite em pó. Havia até um carregador de mentira em tamanho real e um ‘caderno de contabilidade’ do tráfico, onde as crianças anotavam os valores para cada droga vendida.

Em entrevista ao jornal Extra, o comandante do 18º BPM, Rogério Figueiredo, afirmava: “Essa juventude está perdida mesmo.”. E assim o é. Não nos enganemos. Não havia brincadeira inocente. Havia um grupo de crianças sendo preparadas para perpetuar a cultura do tráfico.

Podemos imaginar que, nos comentários da notícia, um que outro tenha dito que faltou chinelada neles. Será que faltou mesmo? O mais provável é que os pais dessas crianças usem os recursos do castigo e da palmada para corrigir seus filhos. Fui professora em uma escola de comunidade controlada pelo tráfico e posso afirmar que essa prática corretiva era muito comum. Inclusive presenciei uma e outra vez pais que, dentro do colégio, diante de professores e direção, cada vez que eram chamados por algum mau comportamento ou notas baixas de seus filhos, batiam neles sem nenhuma cerimônia. O diálogo entre pais e filhos costuma ser (quase) inexistente em comunidades dominadas pela violência e a agressividade originadas pelo índice elevado de crimes.

As crianças que crescem expostos a um ambiente marcadamente violento poderão, com mais facilidade, desenvolver uma personalidade marcada pela agressividade, pela falta de limites e pela ausência de empatia. Nesse sentido, quanto menos empático seja a criança, mais insensível é a realidade do outro. Logo, mais fácil para ela será justificar a violência e a agressividade como uma necessidade para sobreviver no sistema.

O mais curioso de nossa sociedade é que a violência tem chegado a tal ponto que as pessoas que mantém uma conduta idônea começam a apresentar baixo nível de empatia. Isso devido à frustração de ver a impunidade e a falta de controle do Estado sobre a situação. Na notícia em questão, mais de um comentário de leitores incentivavam que os policiais tivessem matado as crianças para evitar que os ‘futuros criminosos’ matassem os ‘pais de família’.

Na realidade, a nosso ver, falta o desenvolvimento de programas sócio-educativos que visem a obter resultados a longo prazo. Projetos assistencialistas são paliativos. Apenas propõem soluções imediatas. E, é claro que acreditamos que qualquer projeto sócio-educativo deva ter como base a educação emocional, a fim de que as pessoas possam desenvolver empatia e compaixão com os demais e de que possam aprender a reconhecer suas emoções, a fim de controlar melhor seus sentimentos.

Deixe Uma Resposta